Igor Brignol
Na melhor das hipóteses, vamos envelhecer
Igor Brignol
Advogado, proprietário do escritório Brignol Advogados, bacharel em Administração de Empresas e mestre em Educação
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Idoso é uma forma delicada de falar velho e hoje é palavra corrente, principalmente nos meios de comunicação. Se precisa cuidado, é porque velho é considerada uma palavra feia. Hoje não se ouve ninguém chamar um velho de idoso: "Tá vendo aquele idoso ali? É meu avô". Às vezes, parece que ser idoso é castigo social e financeiro. Talvez realmente seja.
Antes de social ou financeiro, é um castigo fisiológico, e ninguém escapa. Até escapa, mas pela única saída _ a morte. Na França, quando alguém morre jovem, dizem que morreu "en beauté". Morreu bonito, antes de ficar idoso, o que sem eufemismo quer dizer decadente. Ou um museu, como diz a gíria da gurizada. Guri não tem eufemismo.
Mas as coisas podem ficar mais sérias... Em 2022, o Disque 100 registrou mais de 35 mil denúncias de violações de direitos humanos contra idosos, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, rebatizado Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, sendo que em 87% das denúncias (30.722) os abusos são na residência do idoso. Filhos são a maioria dos agressores.
Minha avó dizia: "a velhice é bruta". Era criança e minha vó Jurema devia estar com uns quarenta e poucos anos. Uma moça falando que a velhice é feia. E não estava tão errada assim. O Estatuto do Idoso regula direitos assegurados às pessoas com 60 ou mais anos. Concordo com quem diz que idade é só um número: maltratar uma criança, um jovem ou um velho continua sendo horrível em qualquer lugar, em qualquer língua. Sem entrar no mérito sobre respeito, sabedoria, origens e tudo que tanto se reverencia, abrevio com o argumento de que são seres humanos vulneráveis e quem pratica é covarde.
Felizmente, a pena para maus tratos a idosos é de dois meses a um ano de detenção e multa; com lesão corporal grave, um a quatro anos de reclusão e se causar morte, quatro a 12 anos de reclusão. Nos relatos, a violência psicológica é a mais presente, com ameaças e agressões verbais que afetam autoimagem e autoestima do ofendido.
Refletindo sobre isso, resta torcer que o acaso seja gentil conosco quando a velhice chegar. Os demais relatos são de violência física, institucional (dentro de instituição pública ou privada, quando funcionário comete abuso, agressão física ou verbal no ambiente); abusos patrimoniais, como assinar documento sem saber por que, alterar testamento, fazer procuração, antecipar herança, vender bens, falsear assinatura etc. Ainda há o sexual e o frequente abuso financeiro: apropriação de dinheiro e cartões bancários; discriminação e negligência. Lembramos que abandono é forma de violência manifestada por falta de amparo ou assistência da parte dos que têm dever de prestar cuidado ao idoso.
Aqui, não se intenciona ameaçar a quem não trata seres humanos com o devido respeito, mostrando possíveis penas. Os idosos, do alto da sua sabedoria, com certeza merecem mais. Talvez seja um convite a denunciar "algo estranho" que vê perto da sua casa. Talvez seja lembrete de que "amanhã pode ser você".
É fato: na melhor hipótese, você vai ser velho. Tomara que eu também. Se tudo der certo, seremos idosos um dia. E para fazer valer, não basta só investir na previdência privada.
Hoje, sente com seu velho, escute suas histórias tomando um café. Mas não muito forte, por que aumenta a pressão arterial…
Na melhor das hipóteses, vamos ficar velhos. Com dignidade.
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